Introdução ao ensaio de arrancamento
Conceitos fundamentais e modos de falha
O que é arrancamento?
Em primeiro lugar, arrancamento refere-se à aplicação de uma carga axial de tração em uma estaca ou tirante. O objetivo, nesse sentido, é mobilizar o trecho ancorado no solo (bulbo de ancoragem) até que ocorra um escorregamento ou ruptura. Conforme a NBR 5629, este ensaio determina parâmetros como o atrito entre o solo e o tirante.
Para que serve o ensaio?
- Verificar se a resistência real do trecho ancorado corresponde à capacidade de projeto.
- Validar os critérios de dimensionamento, como o comprimento de ancoragem.
- Detectar possíveis falhas de execução, por exemplo, injeção de calda deficiente.
- Atender aos requisitos normativos e contratuais para obras de fundação e contenção.
Modos de falha no ensaio de arrancamento
Entender como um elemento pode falhar é crucial. Durante um ensaio de arrancamento, a ruptura pode ocorrer em diferentes pontos, e identificar onde ela aconteceu é parte da análise:
- Falha na interface solo-calda: É o modo de falha mais comum e desejado no ensaio, pois permite validar a capacidade de atrito lateral do solo. Ocorre quando o bulbo de ancoragem escorrega em relação ao maciço de solo.
- Falha na interface calda-aço: Menos comum, pode indicar problemas na aderência entre a barra de aço do tirante e a calda de cimento injetada.
- Ruptura do aço: Acontece quando a carga aplicada supera a resistência à tração do próprio aço. Geralmente indica que a capacidade de ancoragem no solo é superior à capacidade estrutural do elemento.
- Falha na cabeça de ancoragem: Problemas no sistema de protensão (placas, cunhas, porcas) podem levar a uma falha localizada, que não reflete a capacidade do trecho ancorado.
A execução e interpretação do ensaio de arrancamento
Geralmente, a execução e interpretação do ensaio de arrancamento seguem uma sequência rigorosa, que pode variar conforme o projeto, mas cujos princípios de precisão são universais.
Planejamento e preparação
O planejamento inicial envolve a seleção da estaca ou tirante a ser testado e a preparação logística do local. Em seguida, a montagem do ensaio é um ponto crítico, incluindo a instalação de uma placa de reação, macaco hidráulico e uma célula de carga calibrada. Para medir os deslocamentos com a precisão exigida (0,1 mm), a equipe instala deflectômetros com uma viga de referência independente.
O sistema de reação: a base para a precisão
O sistema de reação é a estrutura contra a qual o macaco hidráulico aplica a força. A rigidez deste sistema é inegociável. Se a reação ceder ou recalcar durante o teste, os deslocamentos medidos serão uma combinação do movimento do tirante e do recalque da reação, mascarando o comportamento real da ancoragem e invalidando os resultados. Por isso, sistemas de reação robustos, como mesas de tração metálicas ou o uso de estacas de reação devidamente dimensionadas, são fundamentais.
Aplicação de carga
A equipe aplica as cargas em estágios incrementais, enquanto aguarda a estabilização dos deslocamentos em cada etapa. Para tirantes, por exemplo, a NBR 5629 define diferentes tipos de ensaio:
- Ensaio Tipo A (Qualificação): Ocorre em 10% dos tirantes, com carga de até 1,75 vezes a carga de trabalho.
- Ensaio Tipo B (Recebimento): É aplicado nos demais, com carga de até 1,40 vezes a carga de trabalho.
A interpretação do ensaio de arrancamento: o gráfico Carga vs. Deslocamento
O resultado mais importante é, sem dúvida, o gráfico que relaciona a carga aplicada (T) com o deslocamento medido (δ). Com efeito, a correta interpretação desta curva revela o comportamento da ancoragem:
- Trecho Elástico: No início do carregamento, a relação é praticamente linear e os deslocamentos são pequenos e, em geral, reversíveis, indicando a deformação elástica do aço.
- Início da Plastificação: A curva começa a perder a linearidade, indicando que o atrito lateral está sendo totalmente mobilizado e iniciam-se deformações plásticas (permanentes) na interface com o solo.
- Patamar de Ruptura: Finalmente, os deslocamentos aumentam significativamente com pouco ou nenhum acréscimo de carga, definindo a capacidade máxima. Uma curva bem definida, sem quedas abruptas de carga, geralmente indica uma ruptura dúctil na interface solo-calda. Quedas súbitas podem sugerir uma ruptura frágil ou problemas estruturais.
Relevância para projetistas e contratantes
Exigir a realização de ensaios de arrancamento traz segurança e otimização para o projeto. Além disso, oferece outros benefícios:
- Validação de projeto: Confirma que o comportamento real da ancoragem corresponde às hipóteses teóricas.
- Gestão de riscos: Permite identificar problemas de execução ou de projeto antes da instalação em massa.
- Garantia de vida útil: Para tirantes permanentes, os ensaios de fluência avaliam a perda de carga ao longo do tempo.
Conclusão: uma ferramenta indispensável para a segurança
Em suma, o ensaio de arrancamento é muito mais do que um procedimento normativo; é uma ferramenta de diagnóstico de alta precisão. Ele permite a verificação do desempenho real da ancoragem, contribuindo assim para a segurança de fundações e contenções. Embora a NBR 5629 traga as diretrizes, é crucial que o contrato especifique os ensaios com clareza.
Portanto, para garantir a máxima segurança em suas obras, conte com a expertise da Geoteste na execução e interpretação do ensaio de arrancamento, transformando dados em segurança.
